Dubfire Review | Nova versão do ícone do techno e um amanhecer daqueles!!
- Jonas Fachi
- 5 de abr. de 2023
- 6 min de leitura

Após uma vinda frustrada no final de 2021, finalmente o iraniano Ali Dubfire voltou a receber uma data em seu clube favorito no mundo. Se contarmos a pandemia, foram praticamente 3 anos sem a vinda do ícone do techno mundial no Warung. Nesses 20 anos de história, pouquíssimos DJs construíram uma relação tão intensa com o clube como Dubfire. Tocando na casa desde 2006, quando estreou ao lado de Sharam no carnaval com o lendário projeto Deep Dish, Dubfire se manteve ao longo do tempo tendo datas praticamente todos os anos, fazendo carnavais emblemáticos, como o de 2013, quando tocou até as 11 da manhã, ou em 2011, quando atuou no Inside e depois tocou até as 2 da tarde no Garden – um dos sets mais longos já feitos no club.]

Diria eu que apenas Hernan Cattaneo tem uma relação mais forte com essa pista do que Dubfire! Se pegarmos o quesito longevidade e carinho do público, Hernan se manteve desde 2003 até hoje em uma constância que só cresce – algo realmente impressionante.
Dubfire ultrapassa Sasha nesta relação com o templo ao meu ver por ter proporcionado mais vezes noites emblemáticas ao longo desses 15 anos tocando na casa de madeira. Comparações à parte, o fato novo desta vinda pós pandemia é que o templo está com um público bastante renovado, muitos clubbers que ainda não haviam experimentado o poder de um set com um dos mestres do techno. Por mais que sua história seja enorme, em um caso assim, onde houve uma ruptura de tempo sem apresentar-se, Dub teria que se provar para uma pista que hoje tem outros ídolos advindos desta nova geração de DJs.
Nesses casos, quando me perguntam o que fazer? Sendo que também havia um artista de grande apelo no Garden que é Joris Voorn, eu sempre respondo a mesma coisa; ‘’quando se trata dessas lendas, dos mestres, eu não perco, porque a chance de eles entregarem sets inesquecíveis é considerável’’.
Meu faro não estava errado, foi isso que vimos no último dia 23 de setembro. Um set que com certeza ajudou a subir a régua no quesito ‘’expectativas e nível de DJ’’ do novo público presente. Dubfire só provou (ainda que não precisasse) outra vez mais, porque é um dos DJs mais aclamados de todos os tempos!

Créditos:Biah Art
Voltamos ao início; a residente Eli Iwasa foi escalada para o warm-up até as 02h. Cheguei no club por volta da meia noite e ouvi um pouco do set de Daniel Kuhnen em seu tradicional estilo deep tech com muita personalidade. Subi para ver a última hora de Eli, ela estava tocando seu característico techno rápido.

Créditos:Biah Art
Suas escolhas para o warm-up foram irretocáveis, aquele tipo de música que tensiona a pista, gera uma certa expectativa do que pode acontecer em seguida. Esse tipo de clima combina muito com o Inside quando se tem um grande DJ por vir. Tocar antes de uma lenda como Dubfire demanda responsabilidade no ‘’humor’’ da pista, mas também uma certa liberdade no quesito ritmo.
Faixas como ‘’Disturbance’’ de Steve Rachmad e ‘’Holograma’’ de Marching Machines com remix de Damon Jee, sintetizam bem o lado de ‘’inquietude e tensão’’ explorado por Eli.

Créditos:Biah Art
No horário programado, Dubfire começa seu set reiniciando a pista e colocando algo bem espacial, sem batidas por um tempo, até entrar um breakbeat com baixos gordos desenhando ondas sonoras mentais por todos os cantos da pista. De fundo, um vocal mecânico que chamou a pista a uma leve vibração.
Eu gosto muito de ver DJs com a coragem de chamar a pista para si dando um reset total. Era sinal de que ele havia preparado o set nos mínimos detalhes. Fazia muito tempo que eu não ouvia algo seu, afinal, já perdi a conta de quantas vezes o assisti tocar, então a gente acaba já sabendo o que esperar. Amigos haviam me dado a letra que de seu estilo havia mudado um pouco, ele estava com musicas de maior profundidade! Isso me deixou curioso.
Logo nas primeiras faixas pude conferir e, ao olhar ao redor, senti a pista completamente envolvida. Dub começou mais devagar, colocando mixagens bem elaboradas, sem chamar muito a atenção. Em outros anos, ele já teria usado sua famosa Machine de pads e efeitos para levantar a todos. O que estávamos vendo agora, era um DJ mais preocupado em criar uma energia obscura e groovada.

Créditos:Biah Art
Sabe quando após a primeira hora você já sabe que será histórico? Sim, pois quem conhece ele, poderia prever que iria subir até a pista explodir. Isso é uma característica dos DJs da velha guarda do house progressivo, estilo que ele conhece bem da época do Deep Dish. Estávamos vendo-o voltar para casa, ainda tocando techno, claro, porém com pitadas bastante progressivas misturando com deep tech no início. Há alguns anos, jamais tocaria esses sons. Abaixo a faixa ´´Courage´´ de Gareth Cole, que faixa, que pequena viagem de um space dark deep techno!!
Esse meio termo, o que posso chamar de ‘’sua nova versão’’ de um DJ com mais de 30 anos de carreira, que não deve mais nada a ninguém e que não precisa estar na linha de frente puxando a cena, essa versão estava se mostrando ali na pista, ao meu ver, sua melhor. Exagero? Talvez, porém, ao meu gosto, foi o set dele mais completo em termos de construção que já ouvi. Já fez sets mais espetaculosos, com certeza, já teve sets com manhãs de sol à dentro e cheio de clássicos, sem dúvidas e isso não tem como superar. Abaixo a faixa ‘’Mental Powers’’ de Argy, uma das melhores que ouvi esse ano. Parece aqueles progressivos dos anos 90!
É injusto comparar um set desse com a era do ouro do club, onde não havia limites de horário. Porém quando se analisa as 4 horas, com início, meio e fim construídos de forma sublime, irretocável, você consegue por um set desses entres os melhores dele em todos esses anos. Essa sua segunda hora, até me lembrou um pouco Sasha, um pouco Digweed. O vídeo abaixo mostra um pouco da progressão obscura e deep.

Créditos:Biah Art
Dentro da segunda hora ele também passa a sorrateiramente ativar a sua velha machine, um equipamento de produção musical que pode ser usado na pista para ativar elementos extras as músicas. Dub deixa ela como sua carta na manga, e quando começou a usar, era sinal que iria acelerar e passar a puxar o som para o seu bom e velho micro techno.
O bpm foi lá para cima, em torno de 130! Com a pista completamente entregue a sua música, agora era hora de consistência e intensidade ao máximo, cartas na mesa, por os corações e mentes para vibrar. Pista escura, bass, ritmo non-stop, poucos breaks – era o verdadeiro espírito do templo atuando como sempre.
Às 04h40 ele traz o seu maior clássico e uma das músicas mais reconhecidas de todos os tempos; o seu remix de ‘’Grindhouse’’ na faixa de Radio Slave. A vibração de todos, mesmo os que nem sabiam de que música se tratava, foi o ápice do set. Provando que clássicos são aqueles que sempre funcionam e são marcantes, não necessariamente os mais lembrados.
Após as 05h20, começamos a perceber um tom laranja refletindo no vidro da cabine. Olho para trás, era um daqueles amanheceres épicos que estavam por vir. 20 dias antes, ainda estava escuro às 05h, porém agora com o solstício de verão se aproximando, teremos a sorte de poder ver um pouco do famoso sol do templo.

Créditos:Biah Art
Sua música voltou a ter um tom mais progressivo, e que pegada incrível, uma das linhas de som que eu mais gosto, uma mistura de batidas pesadas com tensão e obscuridade.
De forma magistral ele traz para esse momento de amanhecer mais transcendental a faixa ‘’ Muye’’ (black coffee remix), com um arranjo de pianos crescente e difícil de esquecer!

Créditos:Biah Art
Já com a pista toda clara, deu aquele sentimento nostálgico de 2013, que ele ainda poderia tocar mais umas 3 horas facilmente, bons tempos que não voltam mais. Esse tipo de música pela manhã, mais tribais, mais dançante, com baixo mais mexido, mais lisergia é um estilo tradicional dele nesse momento. Caiu como uma luva.
Quando nos demos conta, já havia passado das 06h, e ainda tinha música, Dubfire puxa seus óculos estilo Matrix para as fotos e delírio de todos.

Créditos:Biah Art
Que vontade de não para mais!! Uma pausa, o público pedindo mais e a concessão para uma última track. O sol já tinha tomado conta da pista, foi como um gostinho a mais do que é a verdadeira vibe do templo – com o amanhecer trazendo vida, energia e um humor totalmente novo.

Créditos:Biah Art
Às 06h15 ele termina, fazendo corações com a mão para todos, visivelmente feliz, realizado de poder voltar a assumir essa cabine que tanto conhece! Esse sol clássico que parece um quadro mágico laranja ao sol, vê-lo surgindo no mar com toda imponência, vê-lo adentrar a pista aos poucos até ganhar a cabine; não existe nada parecido no mundo e é esse visual que encantou tantos DJs ao redor do planeta ao longo desses quase 20 anos.
Espero que algum dia o club consiga novamente liberação dos órgãos públicos de horário pelo menos até as 07h da manhã. Uma horinha a mais pelo menos, já seria algo para todos voltarem a se maravilhar com o Sunrise mais espetacular do planeta. Dubfire? Que volte logo, ele e o templo tem um caso de amor!

Créditos:Biah Art
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